sexta-feira, 16 de agosto de 2024
Citação de Poema, de Danilo Cerqueira
quarta-feira, 14 de agosto de 2024
Citação de A palavra certa, de Herbert Vianna, George Israel, Paula Toller
A PALAVRA CERTA
Atravesso a noite com um verso
Que não se resolve
Na outra mão as flores
Como se flores bastassem
Eu espero
E espero
Não funcionam luzes, telefones
Nada se resolve
Trens parados, Carros enguiçados
Aviões no pátio esperam
E esperam
A chave que abre o céu
D´aonde caem as palavras
A palavra certa
Que faça o mundo andar
A PALAVRA certa. Intérprete: Herbert Vianna. Compositores: Herbert Vianna, George Israel, Paula Toller. In: SANTORINI Blues. Intérprete: Herbert Vianna. [S. l.]: EMI Music Brasil, 1997. 1 CD, faixa 7.
segunda-feira, 29 de julho de 2024
Citação de Memórias de um porteiro, de Denival Matias Conceição
sexta-feira, 19 de julho de 2024
Citação de As lâminas do tarô & os 12 trabalhos de Hércules, de Solidade Lima
CIDADÃO COSMONAL
Meu coração é o coração do mundo.
Todos os homens são meus pais e filhos,
trago nos pés os pés dos andarilhos...
Nas mãos, a eternidade dum segundo.
Íons tocando piano e horas do profundo
meditar... Nas setas do olhar: o brilho
cruzando o sideral como um rastilho
de astro que parte para um voo mais fundo.
Somente um quark e toda humanidade,
partícula astral da ancestralidade
nos glóbulos, nos átomos, moléculas.
Meu coração é o coração da vida
amanhecendo a noite, a despedida,
pulsando o cosmo milenar das células.
LIMA, Solidade. Cidadão cosmonal. In: As lâminas do tarô & os 12 trabalhos de Hércules. LIMA, Solidade. São Paulo: PoloBooks, 2016. p. 88.
quarta-feira, 3 de julho de 2024
Citação de Dedal de areia, de Antonio Brasileiro
A PROSA DO MUNDO E O DEDAL DE AREIA
Espadachim das sombras multivárias,
há que cuidar dos minotauros da psique.
Eis que a verdade é multifacetada
e o mais, sombra de enigmas.
A deusa nua tem cheiro de jasmim
e a razão trescala a alho-porro.
BRASILEIRO, Antonio. A prosa do mundo e o dedal de areia. In: BRASILEIRO, Antonio. Dedal de areia. Rio de Janeiro. Garamond, 2006. p. 31.
sexta-feira, 7 de junho de 2024
Citação de Poesia de Álvaro de Campos, de Fernando Pessoa
Três sonetos
I
[A Raul Campos]*
Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.
O ar que respiro, este licor que bebo
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei-de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.
Nem nunca, propriamente, reparei
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? serei
Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante às sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
*Lisboa, (uns seis a sete meses antes do Opiário) Agosto 1913
II
A Praça da Figueira de manhã,
Quando o dia é de sol (como acontece
Sempre em Lisboa), nunca em mim esquece,
Embora seja uma memória vã.
Há tanta coisa mais interessante
Que aquele lugar lógico e plebeu,
Mas amo aquilo, mesmo aqui... Sei eu
Porque o amo? Não importa nada. Adiante...
Isto de sensações só vale a pena
Se a gente se não põe a olhar p’ra elas.
Nenhuma d'elas em mim é serena...
De resto, nada em mim é certo e está
De acordo comigo próprio. As horas belas
São as dos outros, ou as que não há.
Londres (uns cinco meses antes do Opiário) Outubro 1913
III
[A Daisy Mason]
Olha, Daisy, quando eu morrer tu hás-de
Dizer aos meus amigos ai de Londres,
Que, embora não o sintas, tu escondes
A grande dor da minha morte. Irás de
Londres p’ra York, onde nasceste (dizes —
Que eu nada que tu digas acredito...)
Contar àquele pobre rapazito
Que me deu tantas horas tão felizes
(Embora não o saibas) que morri.
Mesmo ele, a quem eu tanto julguei amar,
Nada se importará. Depois vai dar
A notícia a essa estranha Cecily
Que acreditava que eu seria grande...
Raios partam a vida e quem lá ande!...
(A bordo do navio em que embarcou para o Oriente; uns quatro meses antes do Opiário, portanto) Dezembro 1913
CAMPOS, Álvaro de. Três sonetos. In: PESSOA, Fernando. Poesia de Álvaro de Campos. São Paulo: Martin Claret, 2006. p. 37-39.
sexta-feira, 24 de maio de 2024
Citação de Andar a pé, de David Henry Thoreau
THOREAU, Henry David. Andar a pé. Tradução de Sarmento de Beires e José Duarte. [S. l.]: eBooksBrasil.com, 2003. E-book. local. 52-56 [de 407]. Digitalização de livro em papel: THOREAU, Henry David. Andar a pé. M. Jackson Inc.: Rio de Janeiro, 1950. Ensaístas Americanos. Clássicos Jackson. v. 33.
quarta-feira, 22 de maio de 2024
Citação de Eu, um outro, de Imre Kertész
Uiva o vento úmido, angustiante das tragédias. Abre-se a terra, vem abaixo o céu. As pessoas de repente mudam, desmoronam, envelhecem. O sopro do inferno lhes tira a cor do rosto. Os transeuntes que se vêem [sic] nas ruas são vultos brancos e cinza, cadáveres. As metamorfoses do apocalipse. Na Vérmezõ, ao passar pela estátua de Béla Kun, coberta de estrelas-de-david rabiscadas, de repente entendi que aquilo que na juventude julgava covardia, estupidez, cegueira e - no fundo - a forma quase inconcebivelmente tragicômica do suicídio, na realidade, era o tipo de impotência que se transforma em dignidade. Pois existe algo de digno em finalmente cumprir a ordem brutal do assassino e aceitar friamente ser marcado e massacrado. Existe algo de generoso na comodidade da vítima. Quanto a mim, hoje já desconfio que vou permanecer no meu lugar, quando muito, vou sentir mais nojo. Uma vida longa nos reserva cada vez mais surpresas, surpresas que preparamos para nós mesmos.
KERTÉSZ, Imre. Eu, um outro. Tradução de Sandra Nagy. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007. p. 12-13.
sexta-feira, 3 de maio de 2024
Em menos tempo do que ontem
Em menos tempo do que ontem, até porque estou usando outro recurso para registrar as palavras hoje, creio que vou escrever menos texto do que nos dois dias anteriores. Isso não deve ser problema, pois mesmo assim estou aqui, com mais vontade do que habilidade, com mais razão do que saber, com mais de menos do que de mais...
Deixando esses jogos de palavras de lado, prefiro comentar coisas do dia (e da tarde e da noite) para, delas, partir para questões atemporais... esperanças, esperanças... Hoje finalmente pude correr... correr... correr, fisicamente. Prazer inenarrável, ouvindo música então, melhor ainda. Não, eu não sou desses que se entrega ao corpo de forma mecânica, como máquina que funciona até a exaustão de seus componentes ou que apresenta qualquer defeito pelo uso exagerado. Procuro pensar, entre essa espécie de cansaço satisfatório, sobre coisas importantes para mim, assuntos e questões morais, éticas e sociais. Entre a observação de gestos e corpos ao longo de quase duas horas de exercício, vou meio.que me descobrindo como pessoa, cidadão, homem, ser socialmente constituído, mas que tem um contexto e ambiente condicionante (não determinante) e constante, articuladamente correlacionante, a me e a nos espreitar e tragar para seus domínios de convenções, digamos, específicas.
Esse é o destino dos resistentes: lutar a luta mais vã, como ilustra Drummond com as... Palavras!
Não lutar com as palavras talvez seja fechar os olhos ao seu sinal...
Bons momentos... e fins de tarde... e madrugadas...
Feira de Santana, BA, 8 de maio de 2021.
quarta-feira, 1 de maio de 2024
Madrugada
Tempo de minhas palavras
Onde está? Onde estão?
Vejo e sinto esforço apenas
Perto do céu e do vão...
quarta-feira, 17 de abril de 2024
Citação de A expedição Montaigne, de Antonio Callado
quarta-feira, 10 de abril de 2024
Poemas Pueris I (anteriores a 2006 e ocasionalmente adaptados)
segunda-feira, 8 de abril de 2024
Virada?
segunda-feira, 25 de março de 2024
Verso e círculos
Nestes versículos expostos à meia-luz, duma tela plana, como um campo de futebol, ocorre o show da vida!
Deixando essa fantástica (risos) odisséia trocadilhística de lado, vejamos para o que viemos, cara entidade leitora: algo escrito para além de quem é vc!
Precisamos realmente ler o necessário para entendermos o essencial?
É possível comparar grandes metáforas (definamos o que é ser pragmaticamente grande) a relações e conhecimentos do vulgo (povão mesmo!)?
A este que lê o tal texto dialógico, onde está sua desconfiança da incompreensibilidade de meu texto?
Será mesmo que o homem que escreve será o mesmo que lê? Lê numa manhã fria, no entanto seca. Escreve ao sol, mas com umidade surreal - ou irreal...
O ponto de partida para uma leitura é (mas pode não ser) o que gravita visualmente em torno do globo ocular que quem lê. Esta é a gravidade das coisas! o "corpo que olha" observa, mas age; vê, mas atua; perscruta e encabeça... as reticências de antes, de hoje e de sempre.
Mariano Aido, entre abril de 2010 e março de 2024.
quarta-feira, 6 de março de 2024
Citação de O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde
- Eu agora nunca aprovo nem reprovo nada. Aprovar e reprovar são atitudes absurdas para com a vida. Não viemos ao mundo dar larga aos nossos preconceitos morais. Jamais presto atenção ao que diz o vulgo, nunca interfiro no que fazem as pessoas simpáticas. Quando uma personalidade me fascina, seja qual for o modo de expressão escolhido por essa personagem, considero-o absolutamente satisfatório. Dorian Gray apaixonou-se por uma linda pequena, que personifica Julieta, e pretende casar com ela. Por que não? Se casasse com Messalina, nem por isso seria menos interessante. Você sabe que não sou um paladino do casamento. O verdadeiro inconveniente do casamento é extingue em nós o egoísmo. E os seres sem egoísmo são incolores. Carecem de personalidade. Ainda assim, há temperamentos que o estado conjugal torna mais complexos. Esses conservam o seu egoísmo e acrescentam-lhe muitos outros "egos". Obrigados por isso a viver uma vida múltipla, tornam-se superiormente organizados. E ser seriormente organizado é, a meu ver, a finalidade da existência do homem. Ademais, toda experiência tem valor, e, diga-se o que o que se disser, o casamento é sem dúvida uma experiência. Espero que Dorian Gray case com essa menina, que a adore apaixonadamente seis meses e depois, da noite para o dia, apaixone-se por outra. Ele seria um objeto de estudo maravilhoso.
WILDE, Oscar. O retrato de Dorian Gray. Tradução de Marina Gaspari. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1998. p. 80-81.
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024
Citação de Abismo, de Carlos Ribeiro
As pessoas com ideias fixas tendem geralmente para um dogmatismo mais ou menos velado, e isso costuma ser um obstáculo intransponível para o acesso a novas realidades. Ou, nas suas próprias palavras, a uma percepção não convencional da realidade. É preciso ter disponibilidade de espírito e coragem de olhar o mundo por ângulos insólitos, novos e surpreendentes. Realçar detalhes que até então foram desprezados.
RIBEIRO, Carlos. Abismo. São Paulo: Geração Editorial, 2004. p. 42.
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024
Citação 4 de Juca Mulato, de Menotti del Picchia
1
Coqueiro! Eu te compreendo o sonho inatingível:
queres subir ao céu, mas prende-te a raiz...
O destino que tens de querer o impossível
é igual a este meu de querer ser feliz.
Por mais que bebas a seiva e que as forças recolhas,
que os verdes braços teus ergas aos céus risonhos,
no último esforço vão, caem-te murchas as folhas
e a mim, murchos, os sonhos!
Ai! coqueiro do mato! Ai! coqueiro do mato!
Em vão tentas os céus escalar na investida.
Tua sorte é tal qual a de Juca Mulato.
Ai! tu sempre serás um coqueiro do mato...
Ai! Eu sempre serei infeliz nesta vida!"
"Ser feliz! Ser feliz estava em mim, Senhora...
este sonho que ergui, o poderia por
onde quisesse, longe até da minha dor,
em um lugar qualquer onde a ventura mora;
onde, quando o buscasse, o encontrasse a toda hora,
tivesse-o em minhas mãos... Mas, louco sonhador,
eu coloquei muito alto o meu sonho de amor...
Guardei-o em vosso olhar e me arrependo agora.
O homem foi sempre assim... Em sua ingenuidade
teme levar consigo o próprio sonho, a esmo,
e oculta-o sem saber se depois o achará...
E quando vai buscar sua felicidade,
ele, que poderia encontrá-la em si mesmo,
escondeu-a tão bem que nem sabe onde está!"
E Mulato parou.
Do alto daquela serra,
cismando, o seu olhar era vago e tristonho:
"Se minha alma surgiu para a glória do sonho,
o meu braço nasceu para a faina da terra."
Reviu o cafezal, as plantas alinhadas,
todo o heróico labor que se agita na empreita,
palpitou na esperança imensa das floradas,
pressentiu a fartura enorme da colheita...
Consolou-se depois: "O Senhor jamais erra...
Vai! Esquece a emoção que na alma tumultua.
Juca Mulato volta outra vez para a terra,
procura o teu amor numa alma irmã da tua.
Esquece calmo e forte. O destino que impera
um recíproco amor às almas todas deu.
Em vez de desejar o olhar que te exaspera,
procura esse outro olhar que te espreita e te espera,
que há, por certo, um olhar que espera pelo teu..."
PICCHIA, Paulo Menotti del. Juca Mulato. São Paulo: Círculo do Livro, 1975. p. 51-54.
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024
Citação 3 de Juca Mulato, de Menotti del Picchia
A Voz das Coisas
E Juca ouviu a voz das coisas. Era um brado:
"Queres tu nos deixar, filho desnaturado?"
E um cedro o escarneceu: "Tu não sabes, perverso,
que foi de um galho meu que fizeram teu berço?"
E a torrente que ia rolar no abismo:
"Juca, fui eu quem deu a água para o teu batismo".
Uma estrela a fulgir, disse da etérea altura:
"Fui eu que iluminei a tua choça escura
no dia em que nasceste. Eras franzino e doente.
E teu pai te abraçou chorando de contente...
- Será doutor! - a mãe disse, e teu pai, sensato:
- Nosso filho será um caboclo do mato,
forte como a peroba e livre como o vento! -
Desde então foste nosso e, desde esse momento,
nós te amamos seguindo o teu incerto trilho
com carinhos de mãe que defende seu filho!"
Juca olhou a floresta: os ramos, nos espaços,
pareciam querer apertá-lo entre os braços!
"Filho da mata, vem! Não fomos nós, ó Juca,
o arco do teu bodoque, as grades da arapuca,
o varejão do barco e essa lenha sequinha
que de noite estalou no fogo da cozinha?
Depois, homem já feito, a tua mão ansiada
não fez, de um galho tosco, um cabo para a enxada?"
"Não vás" - lhe disse o azul - "Os meus astros ideais
num forasteiro céu tu nunca os verás mais.
Hostis, ao teu olhar, estrelas ignoradas
hão de relampejar como pontas de espadas.
Suas irmãs daqui, em vão, ansiosas, logo,
irão te procurar com seus olhos de fogo...
Calcula, agora, a dor destas pobres estrelas
correndo atrás de quem anda fugindo delas..."
Juca olhou para a terra e a terra muda e fria
pela voz do silêncio ela também dizia:
"Juca Mulato, és meu! Não fujas que eu te sigo.
Onde estejam teus pés, eu estarei contigo.
Tudo é nada, ilusão! Por sobre toda a esfera
há uma cova que se abre, há meu ventre que espera.
Nesse ventre há uma noite escura e ilimitada,
e nela o mesmo sono e nele o mesmo nada.
Por isso o que te vale ir, fugitivo e a esmo,
buscar a mesma dor que trazes em ti mesmo ?
Tu queres esquecer? Não fujas ao tormento.
Só por meio da dor se alcança o esquecimento.
Não vás. Aqui serão teus dias mais serenos,
que, na terra natal, a própria dor dói menos...
E fica que é melhor morrer (ai, bem sei eu!)
no pedaço de chão em que a gente nasceu!"
PICCHIA, Paulo Menotti del. Juca Mulato. São Paulo: Círculo do Livro, 1975. p. 47-49.
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024
Citação 2 de Juca Mulato, de Menotti del Picchia