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segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Citação de Pólvora, de Herbert Vianna

 


PÓLVORA

As teorias que explicam o universo
Os versos que vasculham o coração
Os garis, estivadores e arquitetos
A fé manipulada dos cristãos

As alegrias, alergias, os afetos
Os fatos, frases, a simulação
O país ajoelhado, a morte, o sexo
A culpa e o olhar de acusação

O que é tudo isso diante da Pólvora?
(Dessa paixão que se renova)

Os dias, datas de aniversário
Os quartos de hotel, o avião
Os livros, discos, dicionários
A madrugada e o olhar sem direção

Os velhos, as crianças e os parques
Os templos, tumbas e memoriais
A nova velha forma do desastre
Bandeiras, panos, lenços, aventais

O que é tudo isso diante da pólvora?
(Dessa paixão que se renova) 


PÓLVORA. Intérprete: Os Paralamas do Sucesso. Compositor: Herbert Vianna. In: BIG Bang. Intérprete: Os Paralamas do Sucesso. [S. l.]: EMI Music Brasil, 1989. 1 CD, faixa 3.

segunda-feira, 24 de junho de 2024

Citação de José, Novos Poemas, Fazendeiro do Ar, de Carlos Drummund de Andrade

 

CANÇÃO AMIGA

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.
 

Caminho por uma rua
Que passa por muitos países.
Se não me veem, eu vejo
E saúdo velhos amigos.
 

Eu distribuo um segredo
Como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
Dois carinhos se procuram.
 

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
E tornei outras mais belas.
 

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.

 

ANDRADE, Carlos Drummund de. Canção amiga .In: ANDRADE, Carlos Drummund de. José. Novos poemas. Fazendeiro do ar. 7. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 9.

segunda-feira, 11 de março de 2024

A chegada de Lampião no céu, Guaipuan Vieira

 
Ilustração do cordel (Amazon)

A chegada de Lampião no Céu

Foi numa Semana Santa
Tava o céu em oração
São Pedro estava na porta
Refazendo anotação
Daqueles santos faltosos
Quando chegou Lampião.

Pedro pulou da cadeira
Do susto que recebeu
Puxou as cordas do sino
Bem forte nele bateu
Uma legião de santos
Ao seu lado apareceu.

São Jorge chegou na frente
Com sua lança afiada
Lampião baixou os óculos
Vendo aquilo deu risada
Pedro disse: Jorge expulse
Ele da santa morada.

E tocou Jorge a corneta
Chamando sua guarnição
Numa corrente de força
Cada santo em oração
Pra que o santo Pai Celeste
Não ouvisse a confusão.

O pilotão apressado
Ligeiro marcou presença
Pedro disse a Lampião:
Eu lhe peço com licença
Saia já da porta santa
Ou haverá desavença.

Lampião lhe respondeu:
Mas que santo é o senhor?
Não aprendeu com Jesus
Excluir ódio e rancor?...
Trago paz nesta missão
Não precisa ter temor.

Disse Pedro isso é blasfêmia
É bastante astucioso
Pistoleiro e cangaceiro
Esse povo é impiedoso
Não ganharão o perdão
Do santo Pai Poderoso

Inda mais tem sua má fama
Vez por outra comentada
Quando há um julgamento
Duma alma tão penada
Porque fora violenta
Em sua vida é baseada.

- Sei que sou um pecador
O meu erro reconheço
Mas eu vivo injustiçado
Um julgamento eu mereço
Pra sanar as injustiças
Que só me causam tropeço.

Mas isso não faz sentido
Falou São Pedro irritado
Por uma tribuna livre
Você aqui foi julgado
E o nosso Onipotente
Deu seu caso encerrado

- Como fazem julgamento
Sem o réu estar presente?
Sem ouvir sua defesa?
Isso é muito deprimente
Você Pedro está mentindo
Disso nunca esteve ausente.

Sobre o batente da porta
Pedro bateu seu cajado
De raiva deu um suspiro
E falou muito exaltado:
Te excomungo Virgulino
Cangaceiro endiabrado.

Houve um grande rebuliço
Naquele exato momento
São Jorge e seus guerreiros
Cada qual mais violento
Gritaram pega o jagunço
Ele aqui não tem talento.

Lampião vendo o afronto
Naquela santa morada
Disse: Deus não está sabendo
Do que há na santarada
Bateu mão no velho rifle
Deu pra cima uma rajada.

O pipocado de bala
Vomitado pelo cano
Clareou toda a fachada
Do reino do Soberano
A guarnição assombrada
Fez Pedro mudar de plano.

Em um quarto bem acústico
Nosso Senhor repousava
O silêncio era profundo
Que nada estranho notava
Sem dúvida o Pai Celeste
Um cansaço demonstrava.

Pedro já desesperado
Ligeiro chamou São João
Lhe disse sobressaltado:
Vá chamar Cícero Romão
Pra acalmar seu afilhado
Que só causa confusão.

Resmungando bem baixinho
Pra raiva poder conter
Falou para Santo Antônio:
Não posso compreender
Este padre não é santo
O que aqui veio fazer?!

Disse Antônio: fale baixo
De José é convidado
Ele aqui ganhou adeptos
Por ser um padre adorado
No Nordeste brasileiro
Onde é “santificado”.

Padre Cícero experiente
Recolheu-se ao aposento
Fingindo não saber nada
Um plano traçava atento
Pra salvar seu afilhado
Daquele acontecimento.

- Logo João bateu na porta
Lhe transmitindo o recado
Cícero disse: vá na frente
Fique despreocupado
Diga a Pedro que se acalme
Isso já será sanado.

Alguns minutos o padre
Com uma Bíblia na mão
Ao ver Pedro lhe indagou:
O que há para aflição?
Quem lá fora tenta entrar
E também um ser cristão,

São Pedro disse: absurdo
Que terminou de falar
Mas Cícero foi taxativo:
Vim a confusão sanar
Só escute o réu primeiro
Antes de você julgar.

Não precisa ele entrar
Nesta sagrada mansão
O receba na guarita
Onde fica a guarnição
Com certeza há muitos anos
Nos busca aproximação.
 

Vou abrir esta exceção
Falou Pedro insatisfeito
O nosso reino sagrado
Merece muito respeito
Virou-se para São Paulo:
Vá buscar este sujeito.

Lampião tirou o chapéu
Descalço também ficou
Avistando o seu padrinho
Aos seus pés se ajoelhou
O encontro foi marcante
De emoção Pedro chorou

Ao ver Pedro transformado
Levantou-se e foi dizendo:
Sou um homem injustiçado
E por isso estou sofrendo
Circula em torno de mim
Só mesmo o lado ruim
Como herói não estão me vendo.

Sou o Capitão Virgulino
Guerrilheiro do sertão
Defendi o nordestino
Da mais terrível aflição
Por culpa duma polícia
Que promovia malícia
Extorquindo o cidadão.

Por um cruel fazendeiro
Foi meu pai assassinado
Tomaram dele o dinheiro
De duro serviço honrado
Ao vingar a sua morte
O destino em má sorte
Da “lei” me fez um soldado.

Mas o que devo a visita.
Pedro fez indagação
Lampião sem bater vista:
Vê padim Ciço Romão
Pra antes do ano novo
Mandar chuva pro meu povo
Você só manda trovão

Pedro disse: é malcriado
Nem o diabo lhe aceitou
Saia já seu excomungado
Sua hora já esgotou
Volte lá pro seu Nordeste
Que só o cabra da peste
Com você se acostumou.

FIM

 

VIEIRA, Guaipuan, A chegada de Lampião no Céu. [S. l.]: Centro Cultural Digital, 1997. Disponível em https://centrocultural.com.br/items/show/13. Acesso em: 27 fev. 2024.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Citação de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis


Olha, estou com sessenta anos, mas se fosse necessário começar a vida nova  começava, sem hesitar um só minuto. Teme a obscuridade, Brás, foge do que é ínfimo. Olha que os homens valem por diferentes modos e que o mais seguro de todos é valer pela opinião dos outros homens  Não estragues as vantagens da tua posição, os teus meios...

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Jaraguá do Sul: Avenida, 2012. p. 38.

terça-feira, 13 de março de 2012

"Todos Ao Redor do Mundo"

O que a música (e claro, a letra) tem de longa, tem de boa, pela temática coletiva. Um bom oásis musical.




All Around The World

It's a bit early in the midnight hour for me
To go through all the things that I want to be
I don't believe in everything I see
Y'know I'm blind so why d'you disagree?

Take me away cos I just don't want to stay
And the lies you make me say
Are getting deeper every day
These are crazy days but they make me shine
Time keeps rolling by

All Around The World, you've gotta spread the word
Tell 'em what you've heard
You're gonna make a better day
All Around The World, you've gotta spread the word
Tell 'em what you've heard
You know it's gonna be okay

Whatcha gonna do when the walls come falling down?
You never move you never make a sound
Where you gonna swim with the ridges that you found?
You're lost at sea well I hope that you drown

Take me away cos I just don't want to stay
And the lies you make me say
Are getting deeper every day
These are crazy days but they make me shine
Time keeps rolling by

All Around The World, you've gotta spread the word
Tell 'em what you've heard
You're gonna make a better day
And All Around The World, you've gotta spread the word
Tell 'em what you've heard
You know it's gonna be okay

Na na na na, na na na na, na na na na, na na na, na na, na na, na na,
Na na na na na na na na, na na na na na na na na,
Na na na na na na na na, na na na na na na na na na na na na na

All Around The World, you've gotta spread the word
Tell 'em what you've heard
You're gonna make a better day
Cos And All Around The World, you've gotta spread the word
Tell 'em what you've heard
You know it's gonna be okay

It's gonna be okay
it's gonna be okay

All Around The World, you've gotta spread the word
Tell 'em what you've heard
You're gonna make a better day
Cos All Around The World, you've gotta spread the word
Tell 'em what you've heard
You know it's gonna be okay

All Around The World, you've gotta spread the word
Tell 'em what you've heard
You're gonna make a better day
And All Around The World, you've gotta spread the word
Tell 'em what you've heard
You know it's gonna be okay

na na na na na na na na na na na na na
na na na na na na na na na na na na na
And I know what I know, what I know what I know
Yeah I know what I know it's gonna be okay

UMA TRADUÇÃO:

Todos Ao Redor do Mundo

Ainda é um pouco cedo na noite para mim
Para repassar por tudo o que eu quero ser
Eu não acredito em tudo que eu vejo
Você sabe que eu sou cego, então por que você discorda?

Então leve-me embora porque eu não quero ficar
E as mentiras que você me faz dizer
Estão ficando piores a cada dia
Estes são dias loucos mas eles me fazem brilhar
O tempo continua passando

No mundo inteiro, você tem que espalhar a notícia
Diga a eles o que você ouviu
Você vai fazer um dia melhor
No mundo inteiro, você tem que espalhar a notícia
Diga a eles o que você ouviu
Você sabe que tudo vai estar bem

Então o que você vai fazer quando as muralhas vierem ao chão?
Você nunca se mexe, você nunca faz barulho
Então onde você vai nadar com os ricos que você achou?
Se você está perdido no oceano, eu espero que você se afogue

Então leve-me embora porque eu não quero ficar
E as mentiras que você me faz dizer
Estão ficando piores a cada dia
Estes são dias loucos mas eles me fazem brilhar
O tempo continua passando

No mundo inteiro, você tem que espalhar a notícia
Diga a eles o que você ouviu
Você vai fazer um dia melhor
No mundo inteiro, você tem que espalhar a notícia
Diga a eles o que você ouviu
Você sabe que tudo vai estar bem

Na na na na, na na na na, na na na na, na na na, na na, na na, na na,
Na na na na na na na na, na na na na na na na na,
Na na na na na na na na, na na na na na na na na na na na na na

No mundo inteiro, você tem que espalhar a notícia
Diga a eles o que você ouviu
Você vai fazer um dia melhor
No mundo inteiro, você tem que espalhar a notícia
Diga a eles o que você ouviu
Você sabe que tudo vai estar bem

Tudo vai ficar bem
Tudo vai ficar bem

No mundo inteiro, você tem que espalhar a notícia
Diga a eles o que você ouviu
Você vai fazer um dia melhor
No mundo inteiro, você tem que espalhar a notícia
Diga a eles o que você ouviu
Você sabe que tudo vai estar bem

No mundo inteiro, você tem que espalhar a notícia
Diga a eles o que você ouviu
Você vai fazer um dia melhor
No mundo inteiro, você tem que espalhar a notícia
Diga a eles o que você ouviu
Você sabe que tudo vai estar bem

Na na na na na na na na na na na na na
Na na na na na na na na na na na na na
E eu sei o que eu sei, o que eu sei o que eu sei
Yeah, eu sei que tudo vai ficar bem





quarta-feira, 23 de junho de 2010

Ris Cá? Canção de Sal

Salvador Dalí. Filósofo reclinável, 1938
Lápis sobre papel,  21,5 x 28cm
Coleção particular

Estive a escutar músicas recentes ...
Bem recentes mesmo...
Instantâneas quase.
Deliciávamos - Eu e mim - As asperitudes verbais, arcaísmos indecifráveis.
Vernáculo ao léu.
Mas... Súbito! ... Atentou a nós uma viva chama inteligente e de ausculta inteligível.
Sermos sensíveis não era ... Não seria demasiado excesso.
Penetramos muito longamente naquela sonoridade de interior de violão, num rodopio feito trajetória de pandeiro.
Debruçamo-nos, insustentáveis e cada vez mais embasbacados, aos sons delinquentes que nos faziam rir das peripécias - imagens acústicas suicidas que cercavam nossos ouvidos a abocanhar nossos tímpanos.
Mas não.
As com-sequências eram outras.
Perdi meus olhos. Não serviam mesmo para nadar!
Às perdas sucederam momentos de usurpação: não respirava, menos tateava que sem língua.
Fiquei apenas com o indicador de ondas para a concha.


Mariano Aido