Mostrando postagens com marcador ética. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ética. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Citação de Admirável mundo novo, de Aldous Huxley


Os livros e o barulho intenso, as flores e os choques elétricos - na mente infantil esses pares já estavam ligados de forma comprometedora; ao cabo de duzentas repetições da mesma lição, ou de outra parecida, estariam casados indissoluvelmente. O que o homem uniu, a natureza é incapaz de separar.
- Elas crescerão com o que os psicólogos chamavam de ódio "instintivo" aos livros e às flores. Reflexos inalteravelmente condicionados. Ficarão protegidas contra os livros e a botânica por toda a vida - o diretor voltou-se para as enfermeiras. - Podem leva-las.

HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. Tradução de Lino Vallandro e Vidal Serrano. São Paulo: Globo, 2014. p. 40.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Citação de A revolta dos meninos, descoberto Freire


Andando na larga e longa avenida, ele espiava os prédios, as pessoas, as lojas, os bares, os carros, os ônibus, o céu. Nossa, como o mundo era grande! Mas ele estava sozinho naquele mundaréu sem fim. E se sentiu pequenino, tão pequenino como uma formiga, que era o menor bicho que ele conhecia. Logo se lembrou da melodia do velho cantor e tentou assobiar. Ela saiu, perfeita, inteira. Começou de novo... e ela saiu mais uma vez prefeita! A emoção que o invadiu foi forte demais. Tudo se agitava dentro dele e uma coisa muito intensa aconteceu. Ele passou a mão pelo rosto e o sentiu molhado. Eram lágrimas! Enfim, ele tinha conseguido chorar! Pela primeira vez na vida. E ficou assobiando sem parar, mas as lágrimas logo secaram. João Pão se sentia novo. Muito mais forte e pronto para outra.

FREIRE, Roberto. A revolta dos meninos: as aventuras de João Pão, um menor abandonado. São Paulo: Moderna, 1994. (Coleção Veredas). p. 85-86.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Citação de É preciso lutar!, de Marcia Kupstas

 

 
Existem duas cidades dentro de uma.
Existe aquela que desperta às 6 ou 7 horas da manhã, com os olhos cheios de sono e as pernas cheias de pressa. Aquela que se aperta nos ônibus e trens, que boceja no volante dos automóveis, que tem um horário para o serviço, tem uma aula ou uma prova, que vive dentro de milhares de pessoas pelas ruas, comprando e vendendo, marcando compromissos e virando multidão.
E existe a outra. Aquela que só começa a existir depois que a multidão se vai, depois que as luzes das casas e apartamentos começam a se apagar e o silêncio do sono vai percorrendo as ruas. Essa outra cidade tem ruas vazias de gente e pouco trabalho, poucos carros e um outro morador, aqueles que se apertam nos bares e nas boates, ali sim, locais onde a noite é alegre. Mas, na maior parte, a cidade noturna está silenciosa e escura.
 
KUPSTAS, Marcia. É preciso lutar! 10. ed. São Paulo: FTD, 1992. (Coleção canto jovem). p. 89-90.

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Citação de Do ser ao saber: relatos de experiência de pessoas que vive(ncia)ram a Graduando

 

 
 
A organização, a chamada para o envio de textos, a revisão e a feitura deste livro (e das duas últimas edições do periódico que lhe inspirou) aconteceram em meio a um acontecimento mundial que distanciou fisicamente as pessoas umas das outras, restando-nos a percepção segura do outro, durante muito tempo, por meio da internet, em transmissões de áudio e/ou vídeo por streaming, ou mesmo acesso a essas transmissões sempre que possível. Embora nem todos pudéssemos acessar tais serviços – muito menos com a estrutura e a qualidade necessárias –, fizemos isso e proporcionamos, por meio desses recursos, não raros, salvadores da sensação de solidão, o compartilhamento de nossos pensamentos, de nossa presença e de nossos gestos com a linguagem, principalmente com palavras escritas e faladas. Essas referências coletivas mais utilizadas de nossa linguagem uniram, unem e unirão pessoas em períodos de nossa história, sempre aglutinando parte do que fazemos em nossa geração e que, muitas vezes sem percebermos na medida de nosso próprio olhar, participam da formação de novas gerações e novas perspectivas nos espaços em que nos coube, em que nos cabe e em que nos caberá existir.
O livro que apresentamos é uma composição, como também o são os objetos que, em última análise, motivaram-no. É oportuno dizer “em última análise”, porque o livro marca os 10 anos de atuação da Graduando: entre o ser e o saber, revista acadêmica da graduação em Letras da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na vida de pessoas que a foram incorporando às próprias leituras e nos espaços em que o periódico se fez presente, em textos escritos, em corpos vivos e em ideias propagadas. Ou seja, uma publicação para discentes, estudantes de graduação da área de Letras, completou uma década de publicação ininterrupta de artigos e resenhas, atividade rara quando da época de sua idealização e ainda pouco comum nos espaços e no tempo da publicação deste livro. Também em última análise, o material que corporifica o periódico é o resultado de horas de estudo, reflexão e escrita, momentos de pesquisa que exemplificam a experiência em destaque com a publicação: o exercício necessário do pensamento científico e acadêmico na formação do ser humano no universo da atuação sobre e para a própria vida.

CALIXTO, B. E. M. ; ALMEIDA, Danilo Cerqueira ; BARRETO, J. R. O. ; BATISTA, M. B. ; PEREIRA, V. S. Prefácio. In: CALIXTO, B. E. M. ; ALMEIDA, Danilo Cerqueira ; BARRETO, J. R. O. ; BATISTA, M. B. ; PEREIRA, V. S. Do ser ao saber: relatos de experiência de pessoas que vive(ncia)ram a Graduando. Nova Xavantina, 2021. p. [4-5]. Disponível em: https://www.editorapantanal.com.br/ebooks-capitulo.php?ebook_id=do-ser-ao-saber-relatos-de-experiencia-de-pessoas-que-vivenciaram-a-graduando&ebook_ano=2021&ebook_caps=1&ebook_org=1. Acesso em: 21 set. 2024. DOI: https://doi.org/10.46420/9786581460198.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Citação de Ética para viver melhor: diferentes atitudes para agir corretamente, de C. S. Lewis


O único tipo de santidade que as Escrituras podem perder (pelo menos o Novo Testamento) pela modernização é algo que nunca teve para seus autores e seus leitores. O Novo Testamento não foi obra de arte literária no grego original: não foi escrito em tom solene e eclesiástico, mas na língua falada na porção oriental do Mediterrâneo depois que o grego se tornou língua internacional e, portanto, perdeu a beleza e a sutileza. Vemos o grego sendo usado pelos que não tsm um sentimento real pelas palavras gregas, porque elas não são as que usavam na infância. Seria grego "básico", uma língua sem raízes no solo, uma língua utilitária, comercial e administrativa. Isso nos choca? Mas não deveria acontecer, a não ser no mesmo nivel em que a Encarnação deve nos chocar. A mesma humildade divina que decretou que Deus se tornaria o bebê no seio de uma camponesa, e mais tarde um pregador de rua preso pela polícia romana, determinou, também, que Ele precária em linguagem vulgar, prosaica e não literária. Se você aceita uma parte, tem de aceitar a outra também.


LEWIS, C. S. A Ética dos textos bíblicos. InÉtica para viver melhor: diferentes atitudes para agir corretamente. São Paulo: Planeta, 2017. p. 164-165.

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Citação de Pesquisa na escola: o que é, como se faz, de Marcos Bagno

 


O segundo passo é uma simples troca de sílaba. Em vez de rePEtir alguma coisa, nós devemos reFLEtir sobre ela. A gramática tradicional, que vem norteando o ensino da língua há quase dois mil anos, não é uma ciência: é uma doutrina. Como toda doutrina, ela tem seus dogmas, que devem ser aceitos sem contestação e transmitidos intactos às gerações futuras. A nomenclatura gramatical, por exemplo, que usamos até hoje - sujeito, objeto, advérbio, subjuntivo, pretérito, antônimo, preposição, artigo, etc. - é a mesma proposta pelos gregos antes de cristo. O que o ensino gramatical faz, então, é repetir esses mesmos termos, conceitos e definições, sem submetê-los a uma análise profunda.

A atitude oposta é a atitude investigativa, reflexiva e crítica. Em vez de se contentar em receber um pacote pronto e passá-lo adiante, o cientista da linguagem abre esse pacote e vai ver o que tem lá dentro, por que aquelas coisas estão reunidas daquele jeito, para que elas servem realmente, para quem elas podem de fato ser úteis, se elas deviam mesmo estar ali, se o nome que elas recebem é adequado etc. etc.

BAGNO, Marcos. Pesquisa na escola: o que é, como se faz. 20. ed. São Paulo: Loyola, 2006. p. 82-83.

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Citação de Teoria da comunicação literária, de Eduardo Portella


Para que o homem [e outros gêneros do ser humano] entre numa relação em uma relação criadora com a realidade é preciso que este relacionamento seja um ato de consciência. E nós diremos porque. É pela simples razão de que não há realidade sem consciência de realidade. A realidade faz e é feita pela consciência. Seremos mais exatos, aliás, se dissermos que a consciência é a própria realidade concentrada no seu princípio de unidade. Mas essa premissa teórica não tem sido tranqüilamente [sic] aeita ou compreendida. Por que? Porque as questões, por parecerem simples, por esconderem a sua complexidade, são tratadas simplificadamente, numa linha de formulação que vai da ingenuidade ao equívoco, passando algumas vezes pela má fé.


PORTELLA, Eduardo. O realismo como estrutura e as ameaças de setorização. In: PORTELLA, Eduardo. Teoria da comunicação literária. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 1973. p. 61.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Citação de Mevitevendo, de Artur da Távola (Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros)

 

 
 
Deus é sempre um pouco mais,. Mesmo no menos. Ele é minha procura, nova, a cada encontro. É meu fluxo de vida e não a minha vida. É minha amargura tanto quanto minha alegria, porque está na dimensão do que não tenho mas sei que existe porque Dele me fala o mistério: o doce mistério, da amarga mas perfumada trajetória, átomo da eternidade, fagulha de esperança, a que chamamos vida e atribuímos tanto, quando apenas é um espasmo da carne em forma de ser e susto. E o que é isso para o Absoluto?

TÁVOLA, Artur da. Muito pessoal. In: TÁVOLA, Artur da. Mevitevendo. 7. ed. Rio de Janeiro: PGL-Comunicação, 1981. p. 23 [22-23].

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Citação de A Gaia Ciência, de Nietzsche

 


 

A meditação perdeu toda a dignidade de sua forma; ridicularizou-se o cerimonial e a atitude solene daquele que reflete e não se poderia continuar a suportar um homem sábio ao velho estilo. Pensamos depressa, pensamos pelo caminho, em plena marcha, no meio de negócios de toda espécie, mesmo quando se trate de pensar nas coisas mais sérias; basta-nos apenas um pouco de preparação e até mesmo pouco silêncio: - é  como se nossa cabeça contivesse uma máquina em movimento constante, que continuasse trabalhando mesmo nas condições mais impróprias para o pensamento. Outrora, quando alguém queria pensar - era realmente uma coisa excepcional!; era visto tornar-se mais calmo e preparar sua idéia [sic]: contraía o rosto como se fosse para uma oração e parava de caminhar; alguns ficavam até mesmo imóveis durante horas - apoiados numa só ou nas duas pernas - na rua, quando o pensamento "vinha". Isso era chamado "pensar".  

Nietzsche, Friedrich. A gaia ciência. Tradução de Antonio Carlos Braga. São Paulo: Escala, 2006. p. 44-45.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Citação de A Luneta Mágica, de Joaquim Manuel de Macedo

 


Chamo-me Simplício e tenho condições naturais ainda mais tristes do que o meu nome.
Nasci sob a influência de uma estrela maligna, nasci marcado com o selo do infortúnio.
Sou míope; pior do que isso, duplamente míope, míope física e moralmente.
Miopia física: — a duas polegadas de distância dos olhos não distingo um girassol de uma violeta.
E por isso ando na cidade e não vejo as casas.
Miopia moral: — sou sempre escravo das ideias dos outros; por que nunca pude ajustar duas ideias minhas.
E por isso quando vou às galerias da câmara temporária ou do senado, sou consecutiva e decididamente do parecer de todos os oradores que falam pró e contra a matéria em discussão.
Se ao menos eu não tivesse consciência dessa minha miopia moral!...
mas a convicção profunda de infortúnio tão grande é a única luz que brilha sem nuvens no meu espírito.
Disse-me um negociante meu amigo que por essa luz da consciência represento eu a antítese de não poucos varões assinalados que não têm dez por cento de capital da inteligência que ostentam, e com que negociam na praça das coisas públicas.
— Mas esses varões não quebram, negociando assim?... perguntei-lhe.
— Qual! são as coisas públicas que andam ou se mostram quebradas.
— E eles?...
— Continuam sempre a negociar com o crédito dos tolos, e sempre se apresentam como boas firmas.
Na cândida inocência da minha miopia moral não pude entender se havia simplicidade ou malícia nas palavras do meu amigo.

MACEDO, Joaquim Manuel de. A luneta mágica. 10 ed. 13. impres. São Paulo: Ática, 1999. (Série Bom Livro). p. 11.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Citação de Eclesiastes, da Bíblia

 

Eclesiástes 1 


1 Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém.
2 Vaidade de vaidades, diz o pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade.
3 Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?
4 Uma geração vai-se, e outra geração vem, mas a terra permanece para sempre.
5 O sol nasce, e o sol se põe, e corre de volta ao seu lugar donde nasce.
6 O vento vai para o sul, e faz o seu giro vai para o norte; volve-se e revolve-se na sua carreira, e retoma os seus circuitos.
7 Todos os ribeiros vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios correm, para ali continuam a correr.
8 Todas as coisas estão cheias de cansaço; ninguém o pode exprimir: os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
9 O que tem sido, isso é o que há de ser; e o que se tem feito, isso se tornará a fazer; nada há que seja novo debaixo do sol.
10 Há alguma coisa de que se possa dizer: isto é novo? ela já existiu nos séculos que foram antes de nós.
11 Já não há lembrança das gerações passadas; nem das gerações futuras haverá lembrança entre os que virão depois delas.
12 Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém.
13 E apliquei o meu coração a inquirir e a investigar com sabedoria a respeito de tudo quanto se faz debaixo do céu; essa enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens para nela se exercitarem.
14 Atentei para todas as obras que se e fazem debaixo do sol; e eis que tudo era vaidade e desejo vão.
15 O que é torto não se pode endireitar; o que falta não se pode enumerar.
16 Falei comigo mesmo, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim em Jerusalém; na verdade, tenho tido larga experiência da sabedoria e do conhecimento.
17 E apliquei o coração a conhecer a sabedoria e a conhecer os desvarios e as loucuras; e vim a saber que também isso era desejo vão.
18 Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta o conhecimento aumenta a tristeza.

BÍBLIA, A. T. Eclesiástes. In: A Bíblia Sagrada: Almeida atualizada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Abbotsford, CAN: Zeiset, 2020. E-book. p. 1379-1380. Ec 1: 1-18.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Citação de Reflexões sobre a vaidade dos homens/ Carta sobre a fortuna, de Mathias Aires

 

 
De maneira incisiva, Mathias Aires começa a tecer a [sic] suas reflexões a partir do trecho bíblico extraído do Eclesiastes: Vanitas vanitatum et omnia vanitas, ou seja, Vaidade das vaidades, tudo é vaidade. Ele vê no centro de suas Reflexões o pensamento do homem não como uma ponta solta da alma humana, mas como objeto que pertence e forma toda idéia do universo. Para o pensador, não há quem esteja imune à vaidade, ele se coloca entre os vaidosos ao ansiar pela publicação de sua própria obra. A vaidade é o fio condutor para que se possa entender todo o comportamento humano. O conceito está ligado diretamente a outros sentimentos, como orgulho, e alcança esferas de pensamento com a compreensão e a fantasia.
Na Carta Sobre [sic] a Fortuna, o autor se vê como um infortunado e responde, em forma de carta, a um desejo do Rei de que ele possua maior fortuna. Entretanto, a resposta incorpora uma longa explanação que confronta merecimento e fortuna. Para, por fim, concluir que ser afortunado na idade em que se encontrava o filósofo, nem seria verdadeira fortuna.

APRESENTAÇÃO. In: AIRES, Mathias. Reflexões sobre a vaidade dos homens/ Carta sobre a fortuna. São Paulo, SP: Escala, 2008. (Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal). v. 21. p.12-13.

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Citação de Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal


CAPÍTULO I

Seção I

Das Regras Deontológicas

I - A dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia e a consciência dos princípios morais são primados maiores que devem nortear o servidor público, seja no exercício do cargo ou função, ou fora dele, já que refletirá o exercício da vocação do próprio poder estatal. Seus atos, comportamentos e atitudes serão direcionados para a preservação da honra e da tradição dos serviços públicos.

II - O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto, consoante as regras contidas no art. 37, caput, e § 4°, da Constituição Federal.

III - A moralidade da Administração Pública não se limita à distinção entre o bem e o mal, devendo ser acrescida da idéia de que o fim é sempre o bem comum. O equilíbrio entre a legalidade e a finalidade, na conduta do servidor público, é que poderá consolidar a moralidade do ato administrativo.

IV- A remuneração do servidor público é custeada pelos tributos pagos direta ou indiretamente por todos, até por ele próprio, e por isso se exige, como contrapartida, que a moralidade administrativa se integre no Direito, como elemento indissociável de sua aplicação e de sua finalidade, erigindo-se, como conseqüência, em fator de legalidade.

V - O trabalho desenvolvido pelo servidor público perante a comunidade deve ser entendido como acréscimo ao seu próprio bem-estar, já que, como cidadão, integrante da sociedade, o êxito desse trabalho pode ser considerado como seu maior patrimônio.

VI - A função pública deve ser tida como exercício profissional e, portanto, se integra na vida particular de cada servidor público. Assim, os fatos e atos verificados na conduta do dia-a-dia em sua vida privada poderão acrescer ou diminuir o seu bom conceito na vida funcional.

VII - Salvo os casos de segurança nacional, investigações policiais ou interesse superior do Estado e da
Administração Pública, a serem preservados em processo previamente declarado sigiloso, nos termos da lei, a publicidade de qualquer ato administrativo constitui requisito de eficácia e moralidade, ensejando sua omissão comprometimento ético contra o bem comum, imputável a quem a negar.

VIII - Toda pessoa tem direito à verdade. O servidor não pode omiti-la ou falseá-la, ainda que contrária aos interesses da própria pessoa interessada ou da Administração Pública. Nenhum Estado pode crescer ou estabilizar-se sobre o poder corruptivo do hábito do erro, da opressão ou da mentira, que sempre aniquilam até mesmo a dignidade humana quanto mais a de uma Nação.

IX - A cortesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo dedicados ao serviço público caracterizam o esforço pela disciplina. Tratar mal uma pessoa que paga seus tributos direta ou indiretamente significa causar-lhe dano moral. Da mesma forma, causar dano a qualquer bem pertencente ao patrimônio público, deteriorando-o, por descuido ou má vontade, não constitui apenas uma ofensa ao equipamento e às instalações ou ao Estado, mas a todos os homens de boa vontade que dedicaram sua inteligência, seu tempo, suas esperanças e seus esforços para construí-los.

X - Deixar o servidor público qualquer pessoa à espera de solução que compete ao setor em que exerça suas funções, permitindo a formação de longas filas, ou qualquer outra espécie de atraso na prestação do serviço, não caracteriza apenas atitude contra a ética ou ato de desumanidade, mas principalmente grave dano moral aos usuários dos serviços públicos.

XI - O servidor deve prestar toda a sua atenção às ordens legais de seus superiores, velando atentamente por seu cumprimento, e, assim, evitando a conduta negligente. Os repetidos erros, o descaso e o acúmulo de desvios tornam-se, às vezes, difíceis de corrigir e caracterizam até mesmo imprudência no desempenho da função pública.

XII - Toda ausência injustificada do servidor de seu local de trabalho é fator de desmoralização do serviço
público, o que quase sempre conduz à desordem nas relações humanas.

XIII - O servidor que trabalha em harmonia com a estrutura organizacional, respeitando seus colegas e cada concidadão, colabora e de todos pode receber colaboração, pois sua atividade pública é a grande oportunidade para o crescimento e o engrandecimento da Nação.


BRASIL. Decreto nº 1.171, de 22 de junho de 1994. Aprova o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d1171.htm. Acesso em: 20 ago. 2024.

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Citação de Contra os acadêmicos, de Santo Agostinho

 
 
O que nas coisas chamamos de acaso nada mais é que algo cuja razão e causa é secreta; e nada de conveniente ou de inconveniente acontece à parte que não diga respeito e não atinja também ao todo. E a filosofia, à qual estou te convidando, promete demonstrar aos que a amam verdadeiramente a visão das doutrinas mais fecundas, proferidas pelos oráculos, e extremamente distanciadas do intelecto dos profanos.
 
 
AGOSTINHO, Santo. Contra os acadêmicos. Tradução de Enio Paulo Giachini. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018. (Vozes de Bolso). p. 14.

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Citação de A sabedoria da filosofia, de Nicola Abbagnano

 

A filosofia é conhecimento teórico puro, por isso tem como principal função traçar uma nítida linha demarcatória entre ideologia e ciência. A ideologia tem caráter prático, procura revestir a realidade com certos valores, transformá-la; mas é falsa a sua pretensão de representar a realidade como tal. A filosofia tem por meta debelar essa pretensão, estabelecendo uma nítida distinção entre aquilo que é ideológico e o que é científico. Mas, para obter esse resultado, deve atuar em um campo onde o científico e o ideológico estão misturados: e este é o campo das ciências atuais, "exploradas" (como dizia Althusser) pelas filosofias religiosas, idealistas e espiritualistas, que não tomam as ciências pelo que são mas usam a sua existência, seus limites e sua dificuldade de crescimento (batizada como "crises") como prova ou garantia de "valores extra-científicos", que mantêm de pé a sociedade de classes e os seus conflitos.

ABBAGNANO, Nicola. A sabedoria da filosofia: problemas da nossa vida. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991. [Coleção Tempo e Religião]. p. 143.

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Citação de Qual é a tua obra?, de Mario Sergio Cortella



Nenhum e nenhuma de nós é capaz de fazer tudo certo o tempo todo de todos os modos. Por isso, você só conhece alguém quando sabe que ele erra, e quando ele erra e não desiste. E dizem: ah, é por isso que a gente aprende com os erros? Não, a gente não aprende com os erros. A gente aprende com a correção dos erros. Se a gente aprendesse com os erros, o melhor método pedagógico seria essas bastante. (É bom lembrar que todo cogumelo é comestível. Alguns apenas uma vez).

CORTELLA, Mario Sergio. Qual é a tua obra?: inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética. 24. ed. Petrópolis, RJ, Vozes, 2015. p. 29-30.

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Citação de A constância do sábio, de Sêneca

 

 

Não há porque julgues ser grande a nossa divergência [entre Sêneca e Epicuro]. Aquilo que é visado como único objetivo recebe das duas correntes filosóficas o mesmo parecer, isto é, o desdém pelas injúrias e para os insultos, coisas que eu denomino sombras e sugestões de ofensas. Aliás, para o menosprezo delas não é necessário ser sábio. Basta o bom senso para dizer a si mesmo: "Isto me acontece merecido ou imerecidamente? Se merecido, não é agravo e sim justiça. Se imerecido, o vexame da injustiça recai sobre quem praticou".

SÊNECA. A constância do sábio. Tradução de Luiz Feracine. São Paulo: Escala, 2007. p. 64.

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Citação de poema de Gregório de Matos


 

Achando-se um braço perdido do menino Deus de N. S. das Maravilhas, que desacataram infiéis na Sé da Bahia

O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo.
 

Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica todo.
 

O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo
Assiste cada parte em sua parte.
 

Não se sabendo parte deste todo,
Um braço que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo.

 

MATOS, Gregório. Achando-se um braço perdido do menino Deus de N. S. das Maravilhas, que desacataram infiéis na Sé da Bahia. In: MATOS, Gregório. Poemas escolhidos de Gregório de Matos. Seleção e organização de José Miguel Wisnik. São Paulo : Companhia das Letras, 2010. p. 326.

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Citação de A política explicada aos nossos filhos, de Myriam Revault D'Allones


 

Desde a mais tenra idade e, sobretudo, desde que entram na escola, vocês tomam conhecimento da vida em sociedade e das suas regras. Num certo sentido, vocês aprendem , sem o saber, as condições da política, que significa o fato de viver e agir em conjunto. Vocês deparam com situações que os preparam para enfrentar questões "políticas": o contato com as diferenças, as injustiças, as desigualdades, a tomada de responsabilidade. Vocês experimentam o que é uma instituição - a escola, o colégio - em que a aprendizagem e a difusão do saber não são estranhas às realidades sociais e políticas. Vocês também confrontam a realidade das discordâncias e o modo pelo qual podem iniciar uma ação coletiva. E compreendem que conversar é bom, que as discussões  não conduzem apenas à violência ou à guerra, mas que às vezes elas permitem evitá-las, quando expomos nossas posições em público, por meio de argumentos e demonstrando respeito pelo outro.

Contudo, vocês também puderam constatar - pois todos repetem isso sem parar - que a política se tornou hoje um objeto de desconfiança, que ela é criticada e desprezada: por exemplo, a política parece incapaz de impedir o aumento do desemprego. Quanto aos políticos, não paramos de criticá-los, e eles frequentemente nos passam uma imagem muito negativa. Existe aí algo muito desconcertante: como uma atividade tão fundamental, que diz respeito à nossa vida em comum, pode causar tanta insatisfação e decepção?

D'ALLONES,  Myriam Revault. A política explicada aos nossos filhos. Tradução de Fernando Santos. São Paulo: Editora Unesp, 2018. p. 10-11.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Citação de A constância do sábio, de Sêneca

 

Aquele que, com respaldo de sua racionalidade, atravessa pelas vicissitudes humanas, com ânimo divino, não abre espaço para acolher a injúria.

Pensas tu que só do lado dos homens não possa advir injúria?

Garanto que nem sequer da parte da fortuna, já que essa sempre que se encontra com a virtude, nunca se iguala a ela.

Se mesmo aquela prova máxima, além da qual não subsiste ameaça alguma, seja da parte de leis severas, seja da parte dos senhorios crudelíssimos, onde a fortuna encontra barreiras para seu império, nós a recebemos, de modo plácido e todo conformado, sabendo ser a morte não um mal e que por isso ela deixa de implicar injúria, então, com muito denodo, suportaremos todas as demais contrariedades, danos, dores, afrontas, lutas familiares e separações. Todas essas coisas, ainda que assediem o sábio, não o afogam porque tais ocorrências não o entristecem, mesmo quando agridem com assaltos sucessivos.

Posto que o sábio tolera, com controle, as injúrias oriundas oriundas da fortuna, quanto mais então irá suportar as originadas de homens prepotentes que são meros instrumentos dela.

SÊNECA. A constância do sábio. Tradução de Luiz Feracine. São Paulo: Escala, 2007. p. 42.