Aquele que, com respaldo de sua racionalidade, atravessa pelas vicissitudes humanas, com ânimo divino, não abre espaço para acolher a injúria.
Pensas tu que só do lado dos homens não possa advir injúria?
Garanto que nem sequer da parte da fortuna, já que essa sempre que se encontra com a virtude, nunca se iguala a ela.
Se mesmo aquela prova máxima, além da qual não subsiste ameaça alguma, seja da parte de leis severas, seja da parte dos senhorios crudelíssimos, onde a fortuna encontra barreiras para seu império, nós a recebemos, de modo plácido e todo conformado, sabendo ser a morte não um mal e que por isso ela deixa de implicar injúria, então, com muito denodo, suportaremos todas as demais contrariedades, danos, dores, afrontas, lutas familiares e separações. Todas essas coisas, ainda que assediem o sábio, não o afogam porque tais ocorrências não o entristecem, mesmo quando agridem com assaltos sucessivos.
Posto que o sábio tolera, com controle, as injúrias oriundas oriundas da fortuna, quanto mais então irá suportar as originadas de homens prepotentes que são meros instrumentos dela.
SÊNECA. A constância do sábio. Tradução de Luiz Feracine. São Paulo: Escala, 2007. p. 42.
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