Andando na larga e longa avenida, ele espiava os prédios, as pessoas, as lojas, os bares, os carros, os ônibus, o céu. Nossa, como o mundo era grande! Mas ele estava sozinho naquele mundaréu sem fim. E se sentiu pequenino, tão pequenino como uma formiga, que era o menor bicho que ele conhecia. Logo se lembrou da melodia do velho cantor e tentou assobiar. Ela saiu, perfeita, inteira. Começou de novo... e ela saiu mais uma vez prefeita! A emoção que o invadiu foi forte demais. Tudo se agitava dentro dele e uma coisa muito intensa aconteceu. Ele passou a mão pelo rosto e o sentiu molhado. Eram lágrimas! Enfim, ele tinha conseguido chorar! Pela primeira vez na vida. E ficou assobiando sem parar, mas as lágrimas logo secaram. João Pão se sentia novo. Muito mais forte e pronto para outra.
FREIRE, Roberto. A revolta dos meninos: as aventuras de João Pão, um menor abandonado. São Paulo: Moderna, 1994. (Coleção Veredas). p. 85-86.
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