A filosofia é conhecimento teórico puro, por isso tem como principal função traçar uma nítida linha demarcatória entre ideologia e ciência. A ideologia tem caráter prático, procura revestir a realidade com certos valores, transformá-la; mas é falsa a sua pretensão de representar a realidade como tal. A filosofia tem por meta debelar essa pretensão, estabelecendo uma nítida distinção entre aquilo que é ideológico e o que é científico. Mas, para obter esse resultado, deve atuar em um campo onde o científico e o ideológico estão misturados: e este é o campo das ciências atuais, "exploradas" (como dizia Althusser) pelas filosofias religiosas, idealistas e espiritualistas, que não tomam as ciências pelo que são mas usam a sua existência, seus limites e sua dificuldade de crescimento (batizada como "crises") como prova ou garantia de "valores extra-científicos", que mantêm de pé a sociedade de classes e os seus conflitos.
ABBAGNANO, Nicola. A sabedoria da filosofia: problemas da nossa vida. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991. [Coleção Tempo e Religião]. p. 143.
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