sexta-feira, 14 de junho de 2024

 
Os meus "amigos" como sempre acontece, abstiveram-se: nem Luís de Monforte- que tanta vez me protestara a sua amizade - nem Narciso de Amaral, em cujo afeto eu também crera. Nenhum deles, numa palavra, me veio visitar durante o decorrer do meu processo, animar-me. Que a mim, de resto, coisa alguma me animaria.
Porém, no meu advogado de defesa fui achar um verdadeiro amigo. Esqueceu-me o seu nome: apenas me recordo de que era ainda novo e de que a sua fisionomia apresentava uma semelhança notável com a de Luís de Monforte.
Mais tarde, nas audiências, havia de observar igualmente que o juiz que me interrogava se parecia um pouco com o médico que me tinha tratado, havia oito anos, de uma febre cerebral que me levara às portas da morte.
Curioso que o nosso espírito, sabendo abstrair de tudo numa ocasião decisiva, não deixe entanto de frisar pequenos detalhes como estes…
 
SÁ-CARNEIRO. Mário de. A confissão de Lúcio. São Paulo: Escala, [2007]. p. 74-75.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário