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- Garçons do mundo, uni-vos. Vocês me servem aqui mas eu vou servir vocês no parlamento. Tragam farinha com mais-valia e chope com meditação transcedental. Fio dental? Não. Meditação transcedental. Vou fundir a existência com a política e a política com existência, coisa que esses burros aqui e o burro do Henrique lá no Centro de Zen-Budismo não entendem. É isso mesmo: zen-budismo! Não é carne de boi zebu, não, nem bunda de boi zebu, é zen-budismo. Traz um zebu zen-budista aí pro craque. Craque. Há há há! E olha, de sobremesa quero doce de unidade sindical misturado com sorvete de palavra-de-ordem para trabalhadores e estudantes. Tudo naquela calda de liberdade que você, seu garçom burro, não sabe reivindicar por causa da gorjeta. Traz um cafezinho da burguesia misturado com a oração do sol poente. Vou palitar os dentes pensando em Lao Tsé, mas esse é o do Tao, não é político não, seu burro. O Ocidente começou a fazer a mesma briga que há entre o taoísmo e o confucionismo. Vocês são capazes de entender o que é isso. Os políticos são filhos de Confúcio. Os pensadores são filhos de Lao Tsé. Eu morro de amores pelos dois. Traz um craque de sobremesa. Um craque! Com suíta! Quero um bolo de liberalismo misturado com doce de socialismo. Ao final de um conhaque democrático, no qual o malfadado Kennedy e Buda estejam de mãos dadas, sob as bençãos de Jesus cristo, Max e Freud.
Ao ser informado do episódio - dias depois -, Henrique limitou-se a comentar:
- É, quem vê e tem a coragem de dizer em voz alta a verdade das coisas vai sempre sofrem de solidão e confusão.
TÁVOLA, Artur da. Um porre de democracia e zen-budismo. In: Leilão do mim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987, p. 30-31.

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