Foto: Danilo Cerqueira
É preciso escrever sobre a terra.
Talvez não seja necessário falar. As pessoas andam muito surdas, ávidas por escutar a própria voz.
Nunca necessitaremos do ouvido de um mudo? Quando tentaremos escutar os outros para aprender a melhor encontrar nossos caminhos. Há de se estar perdido entre as próprias duas linhas de texto, escancarado para dentro das mais estranhas palavras, dos mais caudalosos pensamentos, da mais assustadora iminência de ação, para comungar mais habilmente da profunda incerteza que nos move a vida.
Certa vez, disse-lhe um tolo: "perder-te-ás a liberdade para um miserável que não tem o que comer, não tem para onde ir e não sabe porque está vivo." Se acreditou nas palavras que disse ao espelho, isso não elevou sua ambição, temor ou afinco para resolver as questões mais urgentes. Pode-se não acreditar no que se diz ao espelho, mas
"Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas"... E no meio do espelho tinha uma imagem...
Se continuará (ou continuar-se-á) a deixar os escritos de vidas tão sem serviço ao que os deixa sem chão. Pode-se encontrar alento no que não nos deixa retribuir? Como podemos suscitar amizade ao que não se furta a deixar a solidão sozinha, sem presença de razão, para que, com ela, cheguemos à colaboração. Ou seja: como posso comentar contigo pela madrugada se você não pode escutar ao menos as simples gotas que teimam em cair e atingir um fundo que imerge do chão.
Tantos nomes me vêm à cabeça. Como são novas as sensações de saber isso, saber aquilo, estar consciente, asseverar-se de não estar inconsciente... Consome-se muito ao cercar a própria vida de certezas que se vão tanto numa baforada de cigarro quanto no aroma de um caro perfume francês.
Danilo Cerqueira
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