sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Citação de A Constância do Sábio, de Sêneca


Catão não enfrentou as feras cuja captura cabe aos caçadores montanheses e aos campônios. Também não viveu na época em que se acreditava que o céu estava suspenso sobre os ombros de único homem.  

Ultrapassadas as antigas crendices, tendo já despontado um século de maior acuidade, Catão entrou em conflito com a ambição, esse mal multiforme, com sua imensa volúpia de poder que o retalhamento de todo o orbe entre três homens não conseguiu aplacar.

 Ele se posicionou isolado contra os vícios de uma cidade em degenerescência que afundava sob o próprio peso. 

 Tanto quanto lhe foi possível, retardou o desmoronamento da República. No final, arrastado por ela, preferiu segui-la na ruína que ele retardara por muito tempo. Em decorrência disso, extinguiu-se junto o que não era justo ficar separado: nem Catão vivendo após a morte da liberdade nem a liberdade após a morte de Catão.


SÊNECA. A constância do sábio. Tradução de Luiz Feracine. São Paulo: Escala, 2007. p. 23.

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